Foi neste último final de semana, nos dias 20, 21 e 22, que ocorreu em Salvador o III Encontro de Negros, Negras e Cotistas da UNE. Reunidos na Universidade Federal da Bahia, aproximadamente 650 jovens, estudantes de Universidades Públicas e Privadas, juntaram-se para discutir, principalmente, os avanços, desafios e perspectivas das políticas de ações afirmativas para o acesso da população negra no ensino superior brasileiro.
A maior diferença entre a terceira edição e as demais foi a mobilização de um número maior de jovens e estados, com representantes do Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Acre, Mato Grosso, Distrito Federal, Sergipe e Bahia.
A partir do balanço do III ENUNE foi possível identificar que o acesso ao ensino superior avançou, entretanto, as políticas de permanência não estão seguindo o mesmo ritmo. Para o Diretor de Combate ao Racismo da UNE, Clédisson Júnior, é preciso criar mecanismos que garantam, dentro de uma totalidade, condições necessárias para uma trajetória sustentável até a formação dos estudantes negros e negras cotistas.
“Para que os desafios colocados possam ser superados é necessário compreender o papel estratégico de uma aliança com o movimento negro brasileiro e demais setores progressistas da sociedade”, disse. "Com o avanço das políticas afirmativas no Brasil, os setores conservadores da sociedade brasileira têm se mobilizado, iniciando mais uma ofensiva combatendo a democratização do ensino superior a partir da perspectiva de inclusão de estudantes negros e negras", completou.
PropostasColocando em debate o aprimoramento e ampliação do acesso, o encontro deixou claro também que a UNE deve aprofundar uma campanha que exija “ações afirmativas por inteiro” para garantir a permanência e pós-permanência dos estudantes atendidos pelas mesmas. Entre as propostas esta a importância de investir em espaços institucionais para a consolidação dos programas, como a criação de observatórios das ações afirmativas em todas as IES que possuem políticas nesse sentido, permitindo o mapeamento dos dados dos programas, estimulando o desenvolvimento de pesquisa sobre esse conjunto de dados, estipulando assim novas metas para o aprofundamento dos programas. Servirá ainda para denúncia e assessoramento de casos de racismo, machismo e homofobia nas IES.
Durante o encontro, os participantes afirmaram a luta do movimento estudantil contra ações como as conduzidas pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e pelo partido Democratas (DEM) que alega a inconstitucionalidade das ações afirmativas adotadas pela UNB e UFRGS no Supremo Tribunal Federal e tentam mais uma vez suprimir a população negra do espaço da educação superior.
“Propomos que a diretoria de combate ao racismo da UNE e os estudantes negros e negras se somem a campanha pela legalização do aborto que vem sendo desenvolvida pela diretoria de mulheres estudantes compreendendo esta ação como um importante instrumento na luta das mulheres pela auto-determinação de seus corpos e no combate ao machismo que tem como suas principais vítimas as mulheres negras” diz Clédisson, falando sobre outras propostas feitas no encontro. Além de levar ao debate as políticas de ações afirmativas no ensino superior para negros, negras e cotistas, também foi proposto que a UNE desenvolva uma campanha visando combater a homofobia nas IES.
O diretor comentou ainda sobre a representação da diretoria de combate ao racismo no CONAD – Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, para defender uma mudança radical de postura na política de drogas, hoje vigente, visando o fim da violência associada ao tráfico e o encarceramento em massa da juventude negra levando em conta a redução de danos sociais e a saúde associado ao uso indiscriminado de Drogas. E termina comentando sobre a adoção de reservas de vagas com percentual de 30% do corpo dirigente da UNE para estudantes negros e negras, a ser aprovado no 52º CONUNE, que será realizado no mês de julho na cidade de Goiânia – GO.
PresençasOs palestrantes que ministraram os diversos debates do III ENUNE foram o Coordenador do Educafro, Frei Davi; a professora doutora da UFF e coordenadora da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Iris Amâncio; o coordenador geral da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), Edson França; o secretário
executivo da Secretaria de Direitos Humanos do Estado da Bahia, Marcos Rezende; o ex-secretário de Reparação da Prefeitura de Salvador e vereador, Gilmar Santiago; a vereadora Olivia Santana; o delegado federal do Desenvolvimento Agrário em Minas Gerais (MDA), Rubens Giaquinto; a secretária de Juventude Trabalhadora
da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), Maria Souza e o coordenador da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen),Gilberto Leal.
Confira as fotos do III Encontro de Negros, Negras e Cotistas no
Flickr da UNE.